Introdução:
O que separa a teoria da prática, para mim e a estas horas da noite, é o mesmo que separa o corpo da alma. É uma cortina tão ténue ou espessa que às vezes parece que não existe, outras vezes parece que é nela que vivemos duma forma confortável e outras ainda parece que é tão densa que a nossa vida parece uma treva.
Quando Deus me criou à Sua imagem e semelhança deu-me uma série de atributos, alguns deles ser um exigente teórico e um preguiçoso quase desenvencilhado.
Desculpas:
Acredito que uma grande maioria do Mundo seja como eu e viva escondida no Não tenho tempo, ou Ninguém me ajuda, ou O meu feitio é mesmo este, que posso fazer? Acredito também que há gente de força, com os seus altos e baixos, tal como eu, e que consegue ser forte naquilo que sou fraco e consegue ser fraca, penso eu, naquilo que eu sou forte (e às vezes pergunto-me em que raio serei eu forte).
Soluções:
Ter um emprego desgastante ajuda as pessoas a não pensar tanto no que não deve. Eu estudo, é desgastante na medida em que me concentre e diga Trabalha pah! o que nem sempre acontece nos momentos certos. E quando não acontece dou por mim a escrever aqui não sei bem a quem, talvez a mim mesmo daqui a uns anos (quem sabe!!).
Direccionar a cabeça para outras coisas, quando não se tem um emprego desgastante também é uma boa opção. Há praticantes deste desporto que são muito melhores que outros. Considero-me um praticante de nota 10 (de zero a 20).
[chega de soluções parvas..]
Desenvolvimento:
A vontade própria é sem dúvida a única melhor solução para toda esta problematica. A questão prende-se em quando não há vontade própria. Aí há que usar esquemas diversos, como jogar basquete com bolas de sabão ou saltar à corda com fios de azeite. E pergunta-se o estimado ouvinte, Mas que raio faz a alguem o facto de jogar basquete ou saltar a corda com coisas impossiveis? E eu respondo, Desde que isso sejam coisas que queiramos e nos estimulem o ser bom que há em nós, o ser consciente que nos arrasta para a motivação, são o melhor que se pode fazer. Agora há é quem faça outras coisas mais engraçadas.
Exemplos de coisas engraçadas:
Karate;
Musica;
Futebol;
Assaltos;
Bulling;
Trabalho comunitario;
Partir casas de banho;
Passear;
Beber;
Fumar;
Dormir;
Ler;
Ir ao talho;
Fazer bordados.
Comentário aos exemplos:
Há bons e maus exemplos. Há exemplos que são absolutos ou relativos. E não me querendo perder, isto são exemplos que juntam o corpo à alma. E o ouvinte diz Mas assaltar não é de quem tenha uma grande alma... e eu digo Mas meu amigo não somos todos bons no Mundo e a Vida é assim.
Conclusão:
Vou continuar a ser uma pessoa teoricamente exigente e praticamente preguiçosa, ainda que tenha escrito isto tudo duma forma expositivo-conclusiva e que isto me tenha saido, sem duvida, do coraçao. Contudo acredito que nao va ser tanto teoricamente exigente e praticamente preguiçoso e que me porte um pouco melhor.
Fica aqui o repto a mim mesmo.
segunda-feira, 31 de março de 2008
sábado, 29 de março de 2008
Lisboa é um "mundo anónimo"... não foi assim que começou a conversa mas foi isto que me ficou dela por entre as palavras que não consegui entender devido à sua pronuncia beirã e fortemente arraiana.
"Para quem vem para Lisboa sózinho e não tem um grupo sente-se perdido no mundo. Nas aldeias as pessoas conhecem-se, falam nos cafés, tratam-se pelos nomes. Em Lisboa não: ninguém na rua te vai tratar pelo teu nome, Lisboa é um mundo anónimo. As pessoas não se conhecem."
E a bem ver, em Lisboa as pessoas não se conhecem e nem se querem dar a conhecer. A agitação das ruas esconde as pessoas. Raramente se vê convivio entre os transeuntes e em muitas das vezes são pessoas que não regulam muito bem da cabeça e metem conversa para falar do Benfica.
Ontem na TV, satirizaram o governo, dizendo indirectamente que este poderia mexer em todos os pilares da sociedade: na saude, na educação, na justiça ou mesmo na defesa. Só havia um pilar da sociedade que não poderia ser abalado: o Benfica. E não é que a sátira até faz sentido?
Mas voltando ao meu "amigo" arraiano, ao qual eu acenava manifestamente que sim às coisas que ele falava e eu não percebia, e que misturadas com os ruídos aparatosos de um autocarro em fuga para encontrar a sua última paragem, construiam a nossa conversa.
Esse meu "amigo" (ou conhecido, atendendo ao escasso tempo a que já o tinha conhecido) falava da saudade da sua terra, da sua infancia, das suas histórias, da neve e da alegria que esta traz, e da neve e das tristezas que esta traz.
Falou-me indirectamente entre linhas da pobreza da sua infância e daquilo que o interior português viveu durante anos, e que hoje já não vive porque a agricultura é a arte de empobrecer alegremente; e porque os animais e as culturas sofreram evoluções técnicas tão rápidas que a ligeira corrente de água que passa nos rego não conseguiu acompanhar.
A neve, para quem não a vive uma temporada inteira na pele, é um grande inimigo: "o gado comia os fenos e as forragens guardadas durante 2 e 3 semanas e por vezes as pessoas levavam as mãos à cabeça porque já não havia que comer." Os chãos ficavam cobertos e era impossível às ovelhas, às vacas ou às cabras rapar o que quer que fosse do chão.
Conta o meu avô, que é duma latitude e altitude mais baixas que o arraiano, que o gado descia a serra no inverno e pastava os lameiros e prados do sopé da montanha e que no verão, quando tudo secava nos terrenos que outrora alimentaram o gado serrano, rebanhos enormes romavam à serra repleta de verde, numa fusão de pequenos rebanhos de uma dimensão que não consigo imaginar.
E isto tudo porque? Porque no meio da 2ª Circular, num "Carris" articulado que parece uma bailarina aos pulos, rodeada de gente anónima, distante e presentemente ausente, falar de rebanhos, de serras e de neve faz-me sair daqui e sentir alegria e orgulho da minha identidade.
"Para quem vem para Lisboa sózinho e não tem um grupo sente-se perdido no mundo. Nas aldeias as pessoas conhecem-se, falam nos cafés, tratam-se pelos nomes. Em Lisboa não: ninguém na rua te vai tratar pelo teu nome, Lisboa é um mundo anónimo. As pessoas não se conhecem."
E a bem ver, em Lisboa as pessoas não se conhecem e nem se querem dar a conhecer. A agitação das ruas esconde as pessoas. Raramente se vê convivio entre os transeuntes e em muitas das vezes são pessoas que não regulam muito bem da cabeça e metem conversa para falar do Benfica.
Ontem na TV, satirizaram o governo, dizendo indirectamente que este poderia mexer em todos os pilares da sociedade: na saude, na educação, na justiça ou mesmo na defesa. Só havia um pilar da sociedade que não poderia ser abalado: o Benfica. E não é que a sátira até faz sentido?
Mas voltando ao meu "amigo" arraiano, ao qual eu acenava manifestamente que sim às coisas que ele falava e eu não percebia, e que misturadas com os ruídos aparatosos de um autocarro em fuga para encontrar a sua última paragem, construiam a nossa conversa.
Esse meu "amigo" (ou conhecido, atendendo ao escasso tempo a que já o tinha conhecido) falava da saudade da sua terra, da sua infancia, das suas histórias, da neve e da alegria que esta traz, e da neve e das tristezas que esta traz.
Falou-me indirectamente entre linhas da pobreza da sua infância e daquilo que o interior português viveu durante anos, e que hoje já não vive porque a agricultura é a arte de empobrecer alegremente; e porque os animais e as culturas sofreram evoluções técnicas tão rápidas que a ligeira corrente de água que passa nos rego não conseguiu acompanhar.
A neve, para quem não a vive uma temporada inteira na pele, é um grande inimigo: "o gado comia os fenos e as forragens guardadas durante 2 e 3 semanas e por vezes as pessoas levavam as mãos à cabeça porque já não havia que comer." Os chãos ficavam cobertos e era impossível às ovelhas, às vacas ou às cabras rapar o que quer que fosse do chão.
Conta o meu avô, que é duma latitude e altitude mais baixas que o arraiano, que o gado descia a serra no inverno e pastava os lameiros e prados do sopé da montanha e que no verão, quando tudo secava nos terrenos que outrora alimentaram o gado serrano, rebanhos enormes romavam à serra repleta de verde, numa fusão de pequenos rebanhos de uma dimensão que não consigo imaginar.
E isto tudo porque? Porque no meio da 2ª Circular, num "Carris" articulado que parece uma bailarina aos pulos, rodeada de gente anónima, distante e presentemente ausente, falar de rebanhos, de serras e de neve faz-me sair daqui e sentir alegria e orgulho da minha identidade.
quinta-feira, 13 de março de 2008
O texto do tempo
Vou desfiando as horas em minutos
os minutos em segundos
e os segundos desfia-os o relogio por mim.
de manha quero que o tempo pare
entro no anfiteatro quero que o tempo corra
sento-me aqui e volto a querer o tempo parado
desde a hora do lanche à hora do jantar
e desde a hora do jantar ate a hora em que finalmente me rendo à força do sono
(e à ternura dos lençois)
no fim destas contas aparvalhadas
saem semanas sérias;
saem com uma cadencia de tiro que faz inveja a G3
e que faz inveja a ak-47 (preparada para tudo)
isto porque o tempo prepara-nos para mais do que tudo.
E agora falo por mim,
e digo que o tempo me prepara para mais que tudo,
que o tempo me vem preparando ao longo da vida para mais que tudo,
e preparar para mais que tudo é preparar para nada tambem,
porque agora nao pode sobrar nada em tempo de coisas por fazer,
nao pode ficar nada por fazer.
Às vezes o espaço da agenda é pequeno demais para receber tudo que eu tenho de receber ao longo de um dia.
E no fim penso Nao podia ter feito muito mais? Nao podia ter sido mais util?
enfim,tempo...
as vezes era bom acalmares os cavalos
ou simplesmente, tempo, tirares os cavalinhos da chuva
os minutos em segundos
e os segundos desfia-os o relogio por mim.
de manha quero que o tempo pare
entro no anfiteatro quero que o tempo corra
sento-me aqui e volto a querer o tempo parado
desde a hora do lanche à hora do jantar
e desde a hora do jantar ate a hora em que finalmente me rendo à força do sono
(e à ternura dos lençois)
no fim destas contas aparvalhadas
saem semanas sérias;
saem com uma cadencia de tiro que faz inveja a G3
e que faz inveja a ak-47 (preparada para tudo)
isto porque o tempo prepara-nos para mais do que tudo.
E agora falo por mim,
e digo que o tempo me prepara para mais que tudo,
que o tempo me vem preparando ao longo da vida para mais que tudo,
e preparar para mais que tudo é preparar para nada tambem,
porque agora nao pode sobrar nada em tempo de coisas por fazer,
nao pode ficar nada por fazer.
Às vezes o espaço da agenda é pequeno demais para receber tudo que eu tenho de receber ao longo de um dia.
E no fim penso Nao podia ter feito muito mais? Nao podia ter sido mais util?
enfim,tempo...
as vezes era bom acalmares os cavalos
ou simplesmente, tempo, tirares os cavalinhos da chuva
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